Segundo Pequeno Compilado de Versos Tolos

Rodrigo Goldacker
3 min readOct 23, 2017
Retirado do Pinterest, aqui.

[1] Vazio

Teu vazio é budista ou niilista?
Terreno terrível ou pleno?
Qual o peso de sua epifania?
Há leveza em teu silêncio?
Há paz no teu caos?
Amor no teu sofrimento?
És livre de excesso?
Ou és cheio de nada?
O não-ser é teu pesadelo
Ou é tua terapia?
Teu sentido é placebo
Ou magia?

[2] Dialética relativista e objetivismo dogmático

Eu desprezo os fetiches ideólogos
Por purificação ou união,
Eu desprezo o exaltar da dicotomia
Tanto quanto da sintetização,
Eu rejeito tuas propostas tolas
Para aquilo que não tem solução,
Eu só sei que é limitado o talvez
E que também o são o sim e o não;
Que eu não caia jamais outra vez
No erro de aceitar louco sistema
Que encarcere minha verdade plena
Em mente, conceito, verbalização.

[3] Por baixo

Por baixo de toda casca,
Existe um ser humano;
Por baixo do ódio e do medo,
Há sempre uma criança chorando;
Dentro dos mais odiosos homens
Há uma pureza esquecida;
Por trás das mais ignorantes brutalidades
Há sempre uma alma ferida;
Atrás de todas as lutas,
De todos os lados de todas as disputas,
Há um só Ser sofrido
Em ilusão cindido,
Perdido…

[4] Nada cantar

Noutra madrugada qualquer,
Eu sei que você está lendo,
Com o caos ausente, só há paz
O sereno desce contra as folhas,
E em mim restou um calmo amor;

Num dia as poucas conversas
Que faltaram se conversarão
Com nossas palavras tolas,
Mas não ainda, esta noite não,
Agora tudo está tão tranquilo,
Consegue ouvir esse silêncio?

Eu sei que você está aí,
Reticente a esperar
Paciente,
Mas nesta noite nada diz,
Escuta o nada cantar…

[5] Quando

Eu lembro da vez em que errei o nome na cama,
Daquela outra onde marcas na têmpora me denunciaram,
Das danças nuas de corpos estranhos grudados em calor,
Da vida nômade das casas todas em que busquei êxtase
(e também dos banheiros, ruelas, arbustos)
E de não encontrar nada na secura de cada beijo sem amor,
Nem em meu belo corpo plástico esculpido com ardor
Refletido em espelhos opacos de qualquer lugar.
Eu lembro da casca vazia que fui
E dela eu rio com pena.

Olha só onde me trouxeste,
Quão longe disso cheguei contigo,
O que fizemos de nós juntos?
Quando o jovem que fui virou coisa tão velha?
Quando ser aquilo se tornou tão distante de mim?
Quando foi que nós mudamos tanto?
Quando tudo se inverteu desse jeito?
Foi quando seus olhos me conquistaram?
Ou quando seu riso virou o mais importante?
Talvez quando as palavras passaram a refletir
Toda a beleza de ti que tanto me inspira…

Eu lembro de todas as tuas melodias,
Dos coros desafinados e barracas no mato,
Dos seus olhos, sempre seus olhos,
Em todas as mil você que eles expressam,
Eu lembro da tua história, da tua alma,
De teu sorriso aberto, radiante e contagiante,
Da melancolia, do teu vazio deitado na cama,
Em dias e dias sozinha e ansiosa,
E também da alegria, de ti dançando com a fogueira,
E da tua leveza emanando paz por semanas.

Eu lembro do apoio e da crítica,
Quando que passei a amar ambos?
Eu lembro do elogio e do erro,
Quando que se tornaram importantes?
Eu lembro da verdade e mentira,
Quando que escolhi perdoar?
Eu lembro de você sem parar,
Quando estou no banho,
Quando lembro de antes de ti,
Quando lembro de depois de ti,
Quando de pé no metrô,
Ou sentado no trabalho,
Quando olho aos outros,
E quando olho para ti,
Lembro, ah, lembro fixamente,
De quando você mudou tudo
De quando eu mudei tudo,
De quando mudamos juntos,
De quando deu nó na minha mente,
E por isso agradeço eternamente
Por cada momento
Por tudo,
E para sempre;

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