Requiem for a Maybe;
Existo além de minha percepção de existência; existo além dos confins de minha própria mente. Minha alma não tem bordas delimitadas, nem mapa, nem planta, e não se finda nela mesma.
Quem você seria? Quem você seria se não tivesse dado aquele específico beijo, naquela específica boca, ou se tivesse selado naqueles outros lábios de quem não tocou, se não conhecesse ou escutasse aquela música, se não tivesse aquela conversa, se não visse aquele filme, não encontrasse aquelas pessoas, aqueles amigos, grupos, professores, quem você seria sem aqueles amores?
Não existe “eu e você”, existe “nós”. Não existe dentro e fora. Eu me amo, eu amo o mundo; eu odeio o mundo, eu me odeio.
Quem você seria se tivesse sido a outra e não a uma? Quem você seria sem aquela escolha, sem aquela noite sem dormir, sem aquela dor que te marcou, sem teus específicos traumas? Quem você seria com os sofreres dos outros, com as dores que não te doeram? Quem você seria em outro curso, outra escola, outra cidade, outra família, outros pais, outro ano?
“O louco retorna à primeira casa” é o que sonhos me dizem. Ele é o único que de fato entende a beleza do mundo. Eu só existo às terças-feiras; eu existo todos os dias. Eu existo além das cisões e a dor me levou à busca por seu oposto. A sombra me guiou à luz, o medo me levou ao destemor. A fratura me unificou; a loucura que me fez são.
Quem você seria em outra vida? Quem você teria sido se você já não fosse quem agora é? Quem seria se não tivesse vivido algo que viveu, ou se vivesse algo que deixou de ter vivido? Quem você seria se a resposta dos “não” tivesse sido “sim”, ou vice-versa, quem você seria se não tivesse aceitado certas coisas? Quem você seria sem os eventos, pessoas, lugares, atos, memórias, que definiram o que você veio a ser? Quem você seria em outro lugar que não exatamente onde está, onde está exatamente agora? Quem seria? Quem?