Existe um duplo jogo aí: por um lado, há um pânico no entender do incontrolável, da impossibilidade do humano verdadeiramente orquestrar os destinos. Então é mais simples fingimos que não é uma questão de descontrole, mas de impossibilidade: se não existe a possibilidade de felicidade, não existe a ansiedade diante do futuro (que pode ou não contê-la).
Além disso, sim, existe um segundo aspecto, além do confrontamento com a incerteza, no que diz respeito ao confrontamento com a responsabilidade: se só há o trágico, não é necessário se mexer de qualquer forma para tentar construir qualquer coisa (e aqui também, diante do esforço, de lidar com os riscos e incertezas daquilo que se tenta construir).
Eu acredito que este absolutismo do pessimista, muitas vezes, é sim um caminho mais cômodo. Mas acredito ainda que ele carrega um desespero muito profundo, com o qual tenho uma empatia grande. Sinto pela precariedade daqueles que, por falta de recursos (intelectuais, materiais, emocionais), simplesmente se rendem a essa osmose da tragédia, inertes, tentando encontrar controle e conforto na promessa do apocalipse declarado.
Parece, para mim, uma maneira amarguíssima de se viver e tenho certeza que ninguém capaz de conceber outra possibilidade para si decidiria por se enfiar nesse local. Se tantos o fazem, é pela maldição de nosso tempo no que diz respeito à possibilidade de conceber propósitos e de, numa época de tantos números sólidos e convicções, se confrontar com o incerto a partir de uma arma poderosíssima, mas que nosso cinismo moderno despreza, e que considero fundamental: a esperança. A esperança madura (distante de sua variação cega dos memes de avó) carrega em si tanto uma compreensão profunda do descontrole e do incerto quanto uma escolha de, ainda assim, aceitar que talvez o melhor aconteça. É ela que permite que se enfrente a incerteza com mais carinho e doçura, ciente de que, se o próximo momento é incontrolável, é possível que ele seja também belo, não só horrível. E, com esta ciência, faz mais sentido agir, ao menos para tentar aproximar mais as alegrias de nós.
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